Hoje saí da casa da minha mãe com o coração apertado…
Daquele tipo de dor que a gente não consegue descrever com exatidão. Só sente.
Minha mãe tem 86 anos. Uma mulher que um dia cuidou de tudo, de todos, que tinha o mundo nos olhos e a força nas mãos… hoje vive num tempo só dela, mergulhada em pensamentos que não compreendemos. O Alzheimer roubou suas memórias. O Parkinson, limitou seus movimentos. A vida, pouco a pouco, foi lhe tirando a autonomia. Ela não sabe mais dizer se tem fome ou sede. Não reconhece a urgência do próprio corpo. E mesmo cercada de todo o amor e cuidado possível, as fraldas e as infecções urinárias se tornaram parte da rotina.
É duro.
É duro vê-la assim, tão frágil…
Tão longe da mulher que um dia comandava a casa com firmeza e ternura.
É como se, aos poucos, ela estivesse partindo em silêncio — não da vida, mas de si mesma.
E isso, confesso, me machuca profundamente.
Já perdi meu pai, que foi meu norte, meu amor, meu chão.
E agora, ver minha mãe se despedindo da vida com os olhos ainda abertos, é uma ferida que sangra devagar.
Mas no meio de toda essa dor, há uma Presença.
Um Alguém que não me deixa cair.
Cristo.
Se não fosse Ele… ah, se não fosse Ele…
A dor seria insuportável.
É d’Ele que vem o consolo que não se explica.
A esperança que insiste em nascer, mesmo em dias sombrios.
Aprendi que o amor, em certas fases da vida, se transforma.
Agora ele mora no silêncio de um olhar, no cuidado com a pele frágil, na paciência para repetir palavras esquecidas, no abraço que acolhe mesmo quando não é mais reconhecido.
Amar assim é morrer um pouco todo dia.
Mas também é viver de um jeito mais inteiro.
Porque é um amor que não exige nada em troca.
Apenas se dá.
E talvez seja essa a lição mais profunda da vida:
amar até o fim, mesmo quando tudo em nós já está doendo.
Se você que me lê está passando por isso também, saiba que não está só.
E se puder, ame ainda mais.
Enquanto há tempo.
Renato Paes Leme