O Tempo e Suas Manhas

O tempo…
esse ilusionista sem rosto.
Ora corre, ora para,
ora some, ora pesa.

Quando estou feliz,
as horas são travessuras de criança,
escorregam pelos dedos,
escapam sorrindo,
e quando percebo… já foi.

Quando a dor me visita,
um segundo tem o peso de dias,
e o ponteiro se arrasta
como quem carrega o mundo nas costas.

O tempo não é régua.
Não é medida.
É sensação.
É suspiro.
É susto.

E nós, distraídos,
gastamos tempo…
no frio toque do vidro,
no brilho pálido da tela,
nessa falsa presença
que nos aproxima de quem está longe
e nos afasta de quem está perto.

Converso com dez no WhatsApp,
mas ignoro os dois
que me olham nos olhos,
esperando por um gesto,
um sorriso,
uma palavra simples:
“Eu estou aqui.”

Corremos, corremos,
como quem vai chegar a algum lugar,
mas o destino…
o destino é o agora.

Quando criança,
eu sonhava ser grande.
Ser dono dos meus dias.
Mal sabia eu
que crescer também é perder
— perder tempo, perder sonhos, perder o agora —
para só mais tarde querer voltar.
E não dá.

O tempo não volta.
Ele só ensina.
E ensina do jeito duro
de quem não tem pressa,
mas também não tem pena.

Por isso,
hoje eu aprendo:
não tenho tempo a perder.
Não com raiva,
não com brigas,
não com essa ansiedade que me rouba da vida.

Quero mais mãos dadas,
mais olhares sinceros,
mais conversas demoradas,
mais risos que não cabem no relógio.

Menos notificações.
Menos tela.
Menos ausência presente.

Porque o tempo, esse malandro,
passa.
E só depois, bem depois,
a gente percebe que
o que realmente importa
não estava na tela,
mas no lado.
No abraço.
No toque.
No agora.

Renato Paes Leme

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