Há um fio,
tão tênue,
que separa o riso do silêncio,
o abraço do vazio,
o agora do nunca mais.
A vida —
ah, essa distraída vida —
é sopro leve que se desfaz no vento,
é sombra que dança na parede,
é risco de giz na chuva.
Estamos aqui,
inteiros,
plenos de planos e promessas,
até que não mais estamos.
Basta um tropeço do acaso,
uma vírgula no roteiro,
um suspiro esquecido,
e tudo muda.
Ou tudo cessa.
E então percebo,
num clarão sem som,
que não me cabe controlar o mundo,
as marés,
os ponteiros,
nem sequer meu próprio pulso.
Se não posso segurar a vida,
que eu a abrace leve.
Que eu não me aflija pelo que não vem,
nem me angustie com o que escapa.
Que eu não tema a morte,
mas, sim, o não viver.
Meu compromisso, então,
é com o hoje.
Oferecer ao mundo meu melhor gesto,
meu melhor sorriso,
meu melhor silêncio,
minha melhor presença.
Não importa o que o mundo me devolve,
se espinhos, se flores,
se ausência, se amor.
Importa o que eu planto,
o que eu deixo,
o que eu sou.
E se há algo além —
um depois, um regresso, um retorno —
é este agora que me escreve o caminho.
Que eu viva suave.
Que eu caminhe leve.
Que eu me cuide,
me respeite,
me queira bem.
Pois o sopro da vida
é breve.
Mas enquanto sopra,
que seja brisa de paz.
Renato Paes Leme