Sou grato.
Deus me cercou de amores.
Irmãs que me abraçam com o olhar,
irmão que me guarda na memória,
esposa que é casa,
família que chegou como brisa
e ficou feito raiz.
E amigos…
ah, esses são flores nas esquinas dos dias.
Todos me querem bem.
Todos me desejam inteiro,
feliz, rindo, vencendo, vivendo.
Mas… havia um homem.
Um homem que não só me queria bem.
Me queria aqui.
Perto.
Físico.
De carne, de osso, de voz, de mão.
Meu pai…
Ele não pedia minha presença.
ele precisava.
Havia no amor dele
um grito mudo,
um fio invisível,
uma âncora que me trazia,
mesmo quando eu partia.
Com ele, minha existência fazia sentido
pelo simples ato de estar.
Não era sobre fazer,
não era sobre ser bom ou ruim.
Era ser para ele.
Minha mãe me chama,
sente quando não estou,
me busca em pedaços de memória,
me ama na forma mais pura que pode.
Mas…
meu pai…
meu pai era ausência que doía nele
quando eu não estava.
Era presença que curava.
Era sede que só minha água matava.
Era fome que só meu abraço saciava.
Quando ele partiu,
não ficou só a saudade,
ficou um vazio diferente.
A vida segue,
os amores me cercam,
as mãos me tocam,
os olhos me procuram.
Mas ninguém —
ninguém mais no mundo —
precisa de mim
como ele precisava.
E eu sigo,
grato, amado,
mas com um espaço no peito
que nunca mais se preencheu.
Porque ser amado é bênção.
Mas ser preciso para alguém
é algo que não se explica.
Só se sente.
Ou se perde.
Renato Paes Leme