Cuidado! O bebê não respira… mas é de mentira.

Ah… a humanidade. Essa espécie incrivelmente criativa. Capaz de inventar foguetes que chegam em Marte, inteligência artificial que imita poesias… e, claro, bebês que não choram, não comem, não respiram… mas têm certidão de nascimento e agenda com a pediatra.

Sim, senhoras e senhores. Estamos falando dos ilustres e preciosíssimos bebês reborn. Bonecos de silicone que custam pequenas fortunas, que são tratados com mais dignidade, carinho e atenção do que muitas crianças de verdade espalhadas por aí — nas esquinas, nos sinais, nas calçadas invisíveis da sociedade.

Enquanto tem criança que não sabe o que é uma mamadeira cheia, que troca carinho por moeda no semáforo, que aprende a ser forte antes mesmo de aprender a ser criança… do outro lado da cidade tem gente reunida em eventos sociais para discutir… fralda, mamadeira, chupeta e berço… do boneco.

E não é só isso, não. Tem consulta com a nutricionista especializada — imagino que para decidir se o silicone vai ser dieta low carb ou vegana. Tem pediatra, claro, porque vai que o bebê… sei lá… pega uma gripe existencial.

E tem até chá revelação. Sim, porque descobrir o gênero do bebê de plástico é, aparentemente, mais emocionante do que descobrir que o filho do vizinho não jantou ontem.

A ironia é tamanha que quase perde a graça. Mas não perde. Porque é exatamente esse o retrato do nosso tempo: gente que chora de emoção embalando um boneco, mas desvia o olhar quando vê uma criança real vendendo bala no sinal.

Vivemos a era da ilusão afetiva. A carência virou fetiche. O vazio, mercadoria. É mais fácil amar algo que não dá trabalho, que não tem fome, que não faz birra e que, sobretudo, não exige responsabilidade social.

No fim, talvez o bebê reborn seja só o espelho perfeito da nossa sociedade: bonito por fora, vazio por dentro. Um retrato de como é mais fácil cuidar do que não respira… do que se importar com quem ainda respira — por pouco.

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