E então Deus olhou lá de cima… e pensou:
— Eles realmente não entenderam nada.
Aqui embaixo, a cena é quase surreal. Tem fila no pet shop. Não, não é pra vacina, nem pra ração. É pra fazer a festa de aniversário do Totó. Com balões, bolo sem glúten, velinha, lembrancinha pros amiguinhos de quatro patas — que, claro, estão todos devidamente trajados em roupinhas que custam mais que o salário mínimo.
Sim, vivemos a era dos “pais de pet”. Aqueles que fazem terapia comportamental pro cachorro, acupuntura pro gato, pilates pro pug e reiki pro shih-tzu ansioso. Porque, afinal, o mundo é cruel… e nada mais justo do que cuidar do emocional do bichinho.
E enquanto isso, do outro lado da cidade — e às vezes, nem tão longe assim — tem criança que não sabe o que é carinho. Que não sabe o que é abraço. Que nunca cantou parabéns. Que não sabe que é possível ter uma cama só pra ela, porque até hoje, só conheceu o chão.
Crianças invisíveis. Gente invisível. Vidas descartáveis.
Mas não me entenda mal, leitor sensível. Não estou aqui dizendo que não se deve amar os animais. De forma alguma. Eles são bênção. Mas amar bicho não deveria ser desculpa pra esquecer de amar gente.
O problema é que esse amor transbordante pelos pets parece muitas vezes ser só a mais nova maquiagem do vazio. Uma tentativa desesperada de preencher o que falta aqui dentro, porque, cá entre nós… se afastaram do essencial.
Se afastaram de Deus.
Se afastaram do que Ele pediu.
Se afastaram dos dois maiores mandamentos que, aliás, nem são difíceis de entender:
“Amar a Deus sobre todas as coisas.”
“E amar ao próximo como a si mesmo.”
Mas hoje… Deus ficou pra depois. O próximo ficou pra depois.
O que vale é amar o próprio reflexo espelhado no pelinho sedoso do pet. É mais fácil. Não exige perdão, não exige paciência, não exige empatia com gente que pensa diferente. É amor sem risco, sem esforço e, sejamos honestos… com menos frustração.
A pergunta que ecoa no céu — e que talvez você devesse ouvir — é simples:
Quantas crianças poderiam ser salvas, alimentadas, acolhidas e amadas com o dinheiro de uma cama ortopédica para um bulldog francês?
E se você acha essa pergunta desconfortável… parabéns.
Ela está funcionando.
Renato Paes Leme