Outro dia acordei com uma notícia bombástica: “Objeto voador não identificado sobrevoa a Baía de Guanabara”. Pensei: pronto, agora sim! Os alienígenas chegaram. Mas, sinceramente? Fiquei aliviado. Porque se tem algo mais previsível que o ônibus atrasar no Rio, é o assaltante aparecer quando o sinal fecha.
Comecei a imaginar a cena: a nave-mãe descendo, luzes piscando, aquele som de filme do Spielberg. Os ETs desembarcam, verdes, gelatinosos, prontos para dominar a Terra. Mas em cinco minutos, um pivete já tinha levado o relógio de pulso do comandante intergaláctico e fugido de bike gritando: “Valeu, ETzão!”
Os alienígenas, coitados, tentaram conversar. Usaram tradutores universais, telepatia, sinal de fumaça… mas nada. Foram recebidos com três rajadas de fuzil e um aviso do morador da comunidade:
— Aqui é território, irmão. Se quiser ficar, paga a taxa.
Foi aí que percebi: no Rio de Janeiro, a violência é tão cotidiana que até um ataque alienígena seria um refresco. Pelo menos os monstros de outro planeta têm um plano. Já os daqui, só têm uma pistola e o desejo incontrolável de fazer o seu celular mudar de dono.
Hollywood nos ensinou a temer criaturas com tentáculos, dentes afiados e planos de dominação global. Mas nenhum desses filmes retrata o verdadeiro terror: estar num ônibus às 18h, rezando para o motorista não ser obrigado a abrir a porta para o “monstro” da esquina que acabou de gritar: “Perdeu, perdeu!”
Sabe aquele disco voador que explode cidades em segundos? Aqui ele seria parado por um sinal de trânsito quebrado e três cones da Comlurb. E se passasse pelo Engenhão num sábado à noite, talvez não saísse com os retrovisores.
No fundo, os alienígenas têm bom senso. Vêm de galáxias distantes, estudam o planeta por décadas e, quando chegam ao Rio, decidem voltar. Nem os monstros do espaço estão prontos para enfrentar o combo carioca de calor de 40 graus, tiroteio na madrugada e o preço da Coca-Cola na praia.
Então, se você vir uma nave voando por Copacabana, não se assuste. Ela não está invadindo — está fugindo.
Afinal, é mais fácil o Rio de Janeiro ser visitado por ETs do que passar uma semana sem tiroteio. E cá entre nós, se um dia eles decidirem dominar o mundo, espero que comecem por Bangu. Se sobreviverem ali, podem conquistar qualquer planeta.
Renato Paes Leme